Licenciada em Sociologia e Artes Performativas pela Universidade de Nice, Caroline Guiela Nguyen dirigiu o Théâtre National de Strasbourg (TNS), em 2006, e, pouco tempo depois, fundou a companhia de teatro Les Hommes Approximatifs. Neste coletivo, não há «não-atores»: profissionais ou amadores, todos sobem ao palco para entrelaçar os seus mundos, narrar as suas e outras experiências, trazer corpos à existência.
No centro das suas criações, está sempre posta a tentativa de refletir os desenvolvimentos da sociedade a partir do íntimo. A influência da sociologia, talvez, ou simplesmente a da sua ancestralidade, brilha, sem dúvida, nos seus assuntos de eleição: a família, o desenraizamento. A artista, em conversa com Arnaud Laporte, jornalista e produtor da plataforma France Culture, partilha o processo criativo da sua escrita cénica: «Os atores passam grande parte do tempo a improvisar e eu, sempre a escutá-los, tento compreender o ritmo das suas frases, a sua língua, os seus modos, as suas expressões. Como eles falam, como respondem uns aos outros. Tudo é filmado. Depois, eu escrevo». O olhar da câmara está em todo o lado. Assim, qualquer trabalho assinado por Caroline Guiela Nguyen é, ao mesmo tempo, profundamente cinematográfico e profundamente teatral.
O cruzar fronteiras é, portanto, uma constante na forma e no tema. No espetáculo «Saigão», que integra a programação francesa no Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa, somos transportados de lugar a lugar, do Vietname para França, do vietnamita para o francês, do colonialismo para o pós-colonialismo, do riso às lágrimas, num permanente e incessante vai-e-vem.

A equipa de «Fraternité, conte fantastique», em ensaio no Théâtre National de Bretagne, janeiro de 2021.
Créditos: © Jean-Louis Fernandez
Em «Fraternité, conte fantastique», que será também apresentado em Lisboa, no Teatro Municipal São Luiz, Caroline Guiela Nguyen projeta-se no próximo século, quando uma catástrofe inexplicável exterminou parte da humanidade, obrigando aqueles que sobreviveram a enfrentar o enigma deste desaparecimento. Juntos, os humanos tentam elaborar um sentido à História, testemunhando os ausentes, consolando os presentes, e preparando a memória do futuro. «Tenho a necessidade de representar a realidade e, ao mesmo tempo, ao criar “Fraternité, conte fantastique”, desafio-me a ir em direção a um conto. Podemos narrar a História através da ficção — não se trata de um teatro documental. Sinto que, no nosso trabalho, estamos extremamente preocupados com o peso da realidade e, ao mesmo tempo, temos uma fé e amor absolutos pela ficção», continua, em conversa com Arnaud Laporte. Esta peça faz parte de um ciclo que inclui mais duas criações: um filme, co-produzido por Les Films du Worso, «Les Engloutis», e «L’Enfance, la Nuit», a ser lançado brevemente, na Alemanha.
Caroline Guiela Nguyen é artista associada no Odéon-Théâtre de l’Europe e no Teatro Schaubühne, em Berlim. É também, de uma forma mais confidencial, realizadora de curtas-metragens e autora de peças radiofónicas. De 2011 a 2017, a artista e Les Hommes Approximatifs apresentaram em La Comédie de Valence — onde foram membros do Coletivo Artístico, de 2014 a 2020 — «Se souvenir de Violetta» (2011), «Ses Mains e Le Bal d’Emma» (2012), «Elle brûle» (2013), «Le Chagrin» (2015), «Mon Grand Amour» (2016) e «Saigon» («Saigão») (2017). Desde 2013, os seus espetáculos viajam, ainda, por toda a França, nomeadamente no Teatro Nacional La Colline, no Centre Dramatique Régional de Tours, no Odéon-Théâtre de l’Europe, no Théâtre National de Bordeaux en Aquitaine (TnBA), no Théâtre National de Strasbourg (TNS), no Festival d’Avignon, no Festival Paris l’Eté, no Festival TNB, entre muitos outros locais.
A companhia Les Hommes Approximatifs é formada por Caroline Guiela Nguyen (direção, autoria, produção), Alice Duchange (cenografia), Benjamin Moreau (figurino), Jérémie Papin (desenho de luz), Antoine Richard (desenho de som), Claire Calvi (colaboração artística), Manon Worms (dramaturgia) Jérémie Scheidler (dramaturgia, vídeo).
Créditos: © Jean-Louis Fernandez

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