Nascido em 1925, Georges Dambier trabalhou para o pintor e um dos maiores artistas de cartazes da França, Paul Colin, com o qual desenvolveu as suas aptidões em ilustração e design gráfico. Mais tarde, conseguiu um emprego como assistente de Willy Rizzo, um famoso fotógrafo retratista (Harcourt’s Studio, Paris Match). Foi ali que descobriu a fotografia e os fundamentos desta arte — especialmente a iluminação.
Georges Dambier tinha 20 anos quando a Segunda Guerra Mundial chegou ao fim, um momento em que a cena social e cultural em Paris subitamente descolou. A vida noturna, reprimida durante a ocupação alemã, explodiu imediatamente. Le Búf sur le toit, Le Lido, la Rose Rouge, Le Lorientais, Le Tabou: Dambier era frequentador de cabarés e clubes de jazz em Saint Germain des Prés, onde artistas e celebridades organizavam festas e bailes exuberantes. Uma noite, encontrou Rita Hayworth, disfarçada, numa famosa discoteca francesa, e tirou-lhe algumas fotografias — imagens que vendeu, em exclusivo, à revista France Dimanche. Foi o suficiente para conquistar um emprego na editora como foto-repórter. Neste novo posto, circulou por todo o mundo para cobrir eventos atuais.
No entanto, a sua predileção pelo design gráfico e pela estética, o seu gosto pelo requinte da mise-en-scène, e a insistência de muitos amigos — tais como Capucine, Suzy Parker, Jacques Fath, Bettina, Brigitte Bardot e Jean Barthet — naturalmente conduziram Dambier para a fotografia de moda. Enquanto Georges Dambier construía e aperfeiçoava o seu ofício, foi contratado por Helene Lazareff, fundadora e então diretora da revista ELLE. A jornalista francesa, de origem judaica russa, encorajou-o e deu-lhe a sua primeira missão como fotógrafo de moda.
Georges Dambier não se conformava com a estética e a técnica padrões, na época, para as fotografias de moda: modelos a posar em pé, sem demonstrar emoção, e aparentemente indiferentes à máquina fotográfica. Em vez disso, capturava modelos a rir, quase sempre em ação, e rodeados pela população local num mercado em Marrakech, ou numa aldeia na Córsega, ou — e sobretudo — na sua amada Paris.
Bettina, Tailleur Givenchy, 1953.
Créditos: © Archives Georges Dambier

Foi o talento de Georges Dambier em deixar todos e todas à sua volta muito confortáveis e à vontade que o ajudou a criar imagens verdadeiras, íntimas e duradouras. Com o seu estilo delicado e habilidade refinada, as suas fotografias demonstravam grande elegância — e, à medida que a sua carreira florescia, tornou-se amplamente conhecido pela sua capacidade de capturar a “essência do chique feminino” e do glamour.
Em 1954, Robert Capa convidou-o a liderar o departamento de moda na agência Magnum Photos. Infelizmente, Capa viria a falecer algumas semanas mais tarde, enquanto cobria a guerra indochinesa. Entretanto, Georges Dambier montou o seu próprio estúdio em Paris, na Rue de la Bienfaisance, e, como fotógrafo freelancer, continuou a colaborar com a ELLE e outras revistas, como Vogue, Le Jardin des Modes e Marie France. Colaborou, ainda, com Françoise Giroud e Christine Collanges no L’Express, trabalho ao qual seguiram-se grandes campanhas publicitárias (Synergie, Havas, Publicis) e contratos para muitas marcas, como L’Oréal, Carita e Jacques Dessange.
Além do seu trabalho em publicidade, Georges Dambier fez retratos para capas de discos e cartazes para os seus grandes amigos, os produtores Eddie Barclay e Jacques Canetti. Ao redor do mundo, capturou os rostos dos artistas mais notáveis dos anos 60: Sacha Distel, Zizi Jeanmaire, Dalida, Jeanne Moreau, Jean Cocteau, Johnny Hallyday, Sylvie Vartan, Charles Aznavour, Alain Delon, Françoise Dorléac, Catherine Deneuve e muitos outros. Em 1957, o fotógrafo veio a Portugal para uma reportagem de moda, onde fotografou as modelos em lugares como Óbidos e Nazaré, lado a lado com as gentes locais.
Em 1964, lançou o seu próprio projeto: uma revista para jovens, dedicada à cultura e à moda: TWENTY. Por ali passaram artistas e fotógrafos em início de carreira, como Just Jaeckin, Jean Paul Goude, Philippe Labro, Copi, Bosc e muitos outros que, mais tarde, se tornariam famosos por mérito próprio. A revista durou por dois breves — porém bastante movimentados — anos. Em 1976, com o seu velho amigo Maurice Siegel, fundou a revista VSD, na qual liderou a vertente artística e chefiou a secção fotográfica. Instantaneamente, a publicação tornou-se um grande sucesso.
No final dos anos 80, Georges Dambier retirou-se para uma vida mais calma no campo. No condado de Perigord, com vista para o rio Isle, o fotógrafo fez de uma casa senhorial do século XVII um romântico e sofisticado hotel, prova concreta de que o seu gosto, tão fino e singular, manteve-se inalterado até ao fim da sua vida.

Gunilla, Vestido Tricosa, Portugal 1957.
Créditos: © Archives Georges Dambier
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