Por que quis participar da Temporada Portugal-França?
Só este tipo de evento permite que as pessoas saiam dos trilhos batidos e descubram o outro. Trata-se de mostrar os laços muitas vezes desconhecidos entre duas culturas, dois povos, duas tradições. É por isso que, para mim, era óbvio e necessário participar.
Como é que concebeu este projeto?
Concebi este projeto com a cumplicidade de um dos melhores especialistas franceses da cultura portuguesa, o pianista Bruno Belthoise. Convoquei o jovem compositor francês Benjamin Attahir, que já musicou grandes poetas de língua portuguesa e trabalhou extensivamente com a soprano portuguesa Raquel Camarinha, que também está no programa. A sua criação utiliza tanto linguagens como linhas melódicas que se referem explicitamente à melancolia do fado. Anne Victorino D’Almeida, a compositora portuguesa que pedimos, tem uma dupla cultura franco-portuguesa. O seu concerto para piano refere-se em parte à energia rítmica da obra de Ravel, a partir da qual será executado o ballet completo “Ma mère l’Oye”. Finalmente, quis honrar um dos maiores compositores portugueses do século XX: Fernando Lopes-Graça.
Como é que este programa é específico e original?
Todos estes trabalhos desenvolvem uma certa modéstia na sua melancolia. O que eles têm em comum é um distanciamento humorístico. É raro ser capaz de tecer tantos fios entre obras no mesmo programa. Isto é essencial para mim: o lugar do espetador não deve ser reduzido ao ato de consumir. Os concertos devem alimentá-los emocionalmente mas também intelectualmente.
Imagem: Michaël Cousteau na Cité de la Musique © Nicolo Revelli-Beaumont / SIPA / EDF