Tem formação em arquitetura, sociologia e teatro de intervenção. Como é que estes três campos se juntam nas performances de boijeot.renauld?
Sociologia urbana e graffiti vandal — estas duas experiências permitiram-nos apreender a cidade de uma forma ligeiramente diferente e sobretudo compreender que é melhor assumir atos desviantes do que pedir e esperar pela permissão, que muitas vezes não chega.
Além disso, a formação em trabalho social é mais sobre a capacidade de ler o mundo do que qualquer outra coisa, e o graffiti é uma forma de o transformar; esta combinação permitiu-nos definir-nos como seres humanos, seres com a capacidade de criar ferramentas para fazer uma realidade comum. A criação destes instrumentos, sejam materiais ou imateriais, é a base das ações de boijeot.renauld.
Em relação aos habitantes que ocupam o território comum, que memórias guarda das suas viagens por diferentes cidades que gostaria de partilhar connosco?
Guardamos boas memórias… Muitas histórias e um amor por estas pessoas tão gentis, que são numerosas embora só muito raramente as vejamos. É mais uma memória global desta humanidade do que memórias precisas. Teremos 13 dias de travessia por Lisboa para tentar contar-vos todas estas alegrias.
Algumas pessoas dizem que é na rua que aprendemos mais sobre nós próprios e sobre a vida. Concorda?
A rua é vida, mesmo que as ruas da Europa Ocidental sejam um pouco como a morte. Agir na rua é a melhor forma de adquirir conhecimento das nossas práticas comuns, das nossas memórias partilhadas. Viver no meio dos habitantes, trocar, discutir, conversar sobre tudo e nada… Aprender sempre um pouco mais sobre a espécie humana, e sobre Nós primeiro.
De Nancy a Lisboa, quais são as suas expetativas para esta experiência em Portugal?
Não há expetativas particulares, mas um desejo de encontrar campeões e de rir com todas estas pessoas que a “cultura” só raramente encontra. Cada novo sítio chega sempre como uma grande página em branco. Estamos felizes por vir à cidade e por ter a chance de conhecer os seus habitantes.
Que importância atribui à sua participação no festival TODOS – Caminhada de Culturas e à sua participação no programa da Temporada Portugal-França?
Um desejo louco de representar a França. Tentámos a Eurovisão mas a nossa canção não prestava e Sébastien canta desafinado. O solo de dança de Laurent também ainda não está totalmente aperfeiçoado. Por isso esta é a nossa última oportunidade de mostrar às nossas mães que não somos perdedores. Estamos muito gratos ao TODOS por nos ter dado esta oportunidade de produzir o nosso impacto e de permitir-nos tornar realidade um dos nossos sonhos de infância.
Foto: © Jaime Rojo
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