Na série “Eclats Noirs du Samba” (1987), composta por quatro filmes de cerca de uma hora cada, a cineasta juntou grandes artistas brasileiros como Gilberto Gil, Paulo Moura, Martinho da Vila, Zézé Motta e Grande Othelo, num grande e diverso mosaico que segue as trilhas da influência africana nos ritmos do país. Nos últimos 25 anos, tem vindo a contribuir também para a divulgação da música de Cabo Verde (“Anthologie des Musiques du Cap Vert”, 2 CDs, Buda Musique, 1995) e Angola (“Angola 1956-1998”, 5 CDs, Buda Musique, 1999), além do fado e das tradições portuguesas de raiz africana (“Afro Lisboa”, em 1996, e “Margem Atlântica”, em 2006, com a fadista Mariza). No filme “Canta Angola” (2000), Ariel de Bigault enaltece a criatividade resiliente dos músicos de Luanda, com a presença de Carlitos Vieira Dias, Carlos Burity, Irmãos Kafala, Paulo Flores, Banda Maravilha, entre outros.

Interessa-lhe, sobretudo, mapear as memórias entrelaçadas destes países que, falantes da mesma língua, partilham também um passado colonial que ainda se faz presente de muitas formas e com muitas particularidades em cada território. Mais do que isso, preocupa-se em viajar por estes caminhos através da força criativa e das marcas que todas as culturas e expressões artísticas carregam, de forma mais ou menos explícita.

Carlitos Vieira Dias e Betinho Feijó em still de Canta Angola (2000).

Em 2020, Ariel de Bigault estreou “Fantasmas do Império”, documentário que explora o imaginário colonial no cinema português desde o início do século XX, em 100 anos de cinema que contrapõem o enredo imperialista a filmes e olhares contemporâneos. Assim, a realizadora coloca em diálogo sete cineastas portugueses – Fernando Matos Silva, João Botelho, Margarida Cardoso, Hugo Vieira da Silva, Ivo M. Ferreira, Manuel Faria de Almeida, Joaquim Lopes Barbosa – e os atores Ângelo Torres, são-tomense, e Orlando Sérgio, angolano. Convidando também José Manuel Costa, diretor da Cinemateca Portuguesa, e Maria do Carmo Piçarra, pesquisadora, estas personagens abrem os cofres da memória cinematográfica colonial e perscrutam o passado real, reinventado ou recalcado: os mitos das “descobertas”, a fábrica da epopeia colonial, as máscaras das violências. 

No âmbito da Temporada Portugal-França, a realizadora ganha uma retrospetiva na Cinemateca Portuguesa, de 19 a 24 de setembro, assim como inspira uma exposição de Francisco Vidal no Espaço Espelho d’Água, patente de 17 de setembro a 2 de outubro.