O Fórum Oceano alerta sobre o papel do mar na vida e no futuro de todos. Qual a importância de estar inserido na programação da Temporada Portugal-França?
Existe nos dias de hoje uma consciencialização, por parte do público em geral, da importância do Oceano em termos de desenvolvimento económico e bem-estar humano numa perspetiva de curto, médio e longo prazo, bem como de algumas ameaças que recaem sobre o meio marinho e podem acarretar perdas a nível dos serviços do ecossistema que o oceano nos fornece. Os media, juntamente com a comunidade científica, têm desempenhado um papel crucial na divulgação deste potencial e dos seus constrangimentos, juntamente com soluções que garantam uma exploração sustentável dos respetivos recursos. Contudo, a emergência das temáticas do Oceano exige uma abordagem holística que integre todos os setores e atividades ligados ao mar.
Portugal e França são países com longa tradição marítima e o facto de se ter incluído a temática Oceano e Sustentabilidade num dos eixos da temporada Portugal-França, é revelador do compromisso que ambos os países assumem na importância que atribuem ao mar. O Fórum Oceano, inserido na programação da temporada, irá permitir aproximar os dois países através da partilha de conhecimento científico e de experiências, num encontro promovido em torno das principais temáticas da atualidade. Para além de reforçar o relacionamento científico e cultural entre os dois países, este evento é uma excelente oportunidade para consolidar a ligação e a colaboração entre investigadores de diversas áreas das ciências do mar e instituições de ambos os países, que participam no evento.
O futuro passa pela união e pela cooperação científica e diplomática entre países, como acontece neste fórum, com instituições portuguesas (MARE – Centro de Ciências do Mar e do Ambiente) e francesas (Institut de l’Océan de l’Alliance Sorbonne Université), num assunto tão delicado como o oceano?
A cooperação científica e diplomática entre países é efetivamente vital no esforço conjunto de preservar o Oceano e, ao mesmo tempo, continuar a explorá-lo. Este é o enorme desafio que enfrentamos para os próximos anos. Tendo em conta as obrigações dos países em termos de soberania no meio marinho, a vastidão deste meio e o desconhecimento que ainda existe sobre o mesmo em diversas áreas geográficas e domínios do saber, será necessário um elevado esforço financeiro e de formação de recursos humanos especializados. Neste contexto, ações isoladas dificilmente serão eficazes para responder a este desafio global.
O conhecimento científico é imprescindível para a conservação e restauro dos ecossistemas marinhos e para o desenvolvimento de uma Economia Azul que se pretende sustentável. A cooperação que se estabelece entre as instituições envolvidas na organização do Fórum Oceano é um elemento-chave para atingir objetivos comuns e reunir sinergias, de modo a otimizar esforços e recursos humanos e financeiros. Este é o caminho a seguir para resolver os problemas que enfrentamos na atualidade.
De que forma pretendem chegar ao público e incutir-lhe os desafios de valorização dos recursos do oceano, através deste fórum?
Trazer para as luzes da ribalta questões da atualidade, que são vitais para a sobrevivência do planeta e o bem-estar da Humanidade, encerra um enorme potencial para cativar e envolver os cidadãos, constituindo uma mais-valia na sensibilização do público, para as questões do Oceano. Divulgar o conhecimento científico e as lacunas existentes e confrontar experiências sobre diversas matérias relativas à exploração dos recursos do oceano e à sua salvaguarda, são a génese do Fórum Oceano. Este fórum aborda os objetivos e os rumos para um futuro comum, inovador e, acima de tudo, mais sustentável.
O formato do evento, que beneficiará de tradução simultânea Francês/Português, inclui conferências e mesas redondas seguidas de debate, de modo a promover a participação de todos. O evento estará aberto ao público em geral, que poderá participar presencialmente e intervir durante os debates, podendo ainda ser seguido ao vivo, via streaming. Os conteúdos a abordar incluem aspetos relacionados com a importância do Oceano para a Humanidade, as lacunas de conhecimento existentes, a necessidade de o estudar e preservar, e o papel que os cidadãos deverão ter nestas ações. As mesas redondas serão conduzidas por investigadores e outros, que sensibilizarão um público não especializado para a diversidade de questões e desafios partilhados no Atlântico. O evento será ainda gravado em vídeo, para atingir uma mais ampla divulgação.
Defende que uma visão unificada permite promover e ampliar a capacidade de atuação de outras áreas, na conservação, defesa e gestão do oceano?
A visão unificada sobre o oceano global é necessariamente a de um oceano saudável, único garante da vida no nosso Planeta. Uma das cinco missões da UE, “Missão Estrela-do-mar 2030”, tem como objetivo geral restaurar o nosso oceano e as águas europeias até 2030, o que só será possível com a participação de todos. A união de todos
em torno de um objetivo comum, capaz de reverter o declínio da saúde dos oceanos é crucial para o nosso futuro. Só assim poderemos continuar a usufruir dos serviços que o oceano nos presta e que são vitais para a sobrevivência da vida no planeta.
A identificação de problemas e oportunidades comuns, num ambiente de partilha de conhecimento científico e troca de experiências é, sem dúvida, uma mais-valia que pode e deve ser transferida para a sociedade, em diversas áreas, de modo a capacitá-la a conservar, defender e gerir o oceano de forma sustentável. Neste contexto, e tendo em conta a diversidade de temáticas abordadas no Fórum Oceano, quer na edição realizada em Paris no passado mês de março, quer na edição a realizar em setembro em Lisboa, será possível trazer para debate questões que são do interesse de todos e que contribuirão para esse objetivo.
Enquanto investigadora do MARE, gostaria de voltar a colaborar com instituições francesas, na preservação do Atlântico?
Certamente que sim, e não apenas enquanto investigadora do MARE. Como professora da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, e coordenadora do mestrado em Ecologia Marinha, gostaria de sublinhar o potencial interesse desta colaboração na formação avançada.
A colaboração com instituições francesas na preservação do Atlântico pode igualmente ser feita a nível académico, já que as universidades são locais de excelência onde se faz a ponte entre ensino e investigação constituindo, ainda, uma importante fonte de divulgação do conhecimento científico, para o público em geral. Para além de fortalecer laços já existentes entre alguns investigadores e instituições de ambos os países, o Fórum Oceano, permite, ainda, identificar interesses comuns e encetar novas colaborações, que espero possam vir a dar frutos num futuro muito próximo. Estas colaborações poderão ser materializadas através da concretização de projetos comuns, e do intercâmbio a nível de estudantes de mestrado e/ou doutoramento.
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