Descobriu a sua paixão pelo teatro na faculdade, mas foi depois de experimentar ser ator que percebeu que o seu lugar era mesmo atrás do palco. Hoje dramaturgo e encenador, Joël Pommerat, nascido em 1963, é um dos nomes mais sonantes do teatro francês contemporâneo — e, curiosamente, encena apenas textos próprios, nunca de outros dramaturgos. 

Em 1990, funda a Companhia de Teatro Louis Brouillard, que dirige até hoje. Em 2002, publica a sua primeira peça, intitulada “Pôles” (Polos), e, dois anos depois, o Strasbourg National Theatre convida-o a encenar e estrear a peça “Au monde” (No mundo). Este foi o momento de lançamento da carreira de Pommerat e da Companhia e o início da sua fama. A peça retrata a vida de uma família francesa: três filhas sentem-se aprisionadas pela autoridade do pai, que, apesar de velho, quase moribundo e cego, continua a ser extremamente severo. Dez anos depois, apresenta a mesma obra com quase todos os mesmos atores no Théâtre de la Monnaie, em Bruxelas, convidando Philippe Boesmans — com quem voltaria a trabalhar em 2017 — como compositor da banda sonora.

O seu trabalho frequentemente consiste na reescrita de fábulas e contos tradicionais, adaptando-os a teatro. No mesmo ano em que apresenta “Au monde”, estreia “Le Petit Chaperon Rouge” (O Capuchinho Vermelho), a sua primeira encenação direcionada ao público infantil. Nesta peça, o dramaturgo conjuga a fantasia da história original com a dura realidade de viver, e escreve a história de uma menina que vai a caminho da casa da avó, cruzando-se com um lobo, da forma mais fidedigna e real possível. 

Este não foi o único conto que Pommerat reescreveu. Em 2008, apresenta “Pinocchio” (Pinóquio) no Teatro Odéon, a história de uma pequena marioneta de madeira com um nariz que cresce a cada mentira, e que descobre o mundo através do sofrimento e da busca pelo sentido da vida. Em 2016, “Pinocchio” passou pelo Centro Cultural de Belém, marcando o regresso do dramaturgo a Lisboa, depois do Festival de Almada desse mesmo ano. Esta peça garantiu-lhe o Prémio Moliére para Melhor Espetáculo para o Público Jovem. Já em 2011, reescreve “Cendrillon” (Cinderela). 

Ainda nesse ano, colabora com o compositor Oscar Bianchi na adaptação para ópera da sua peça “Grâce à mes yeux” (Graças aos meus olhos), apresentada no Aix en Provence Opera Festival. Outra encenação relevante de Pommerat é “La Réunification des deux Corées” (A Reunificação das duas Coreias), que, mais do que uma representação política, é uma ode às relações humanas, pondo em causa as nossas emoções e confrontando o público com elas. 

Os jogos de luz e escuridão súbita, que deixam no espetador uma sensação desconcertante, e a ausência de adereços ou objetos em cena valem-lhe o apelido de “mágico do palco”. Através destes elementos, o encenador cria um teatro visual, que vai da maravilha ao medo, sem, necessariamente, a presença dos atores.

Em 2014, a convite de Philippe Quesne e Nathalie Vimeux, integra a Associação Théâtre Nanterre-Amandiers e, depois, organizações de renome em todo o mundo, como a Scène Nationale de La Rochelle, Comédie de Genève e o TNP/Théâtre National Populaire de Villeurbanne. Mais tarde, o artista e a sua Companhia associam-se ao DRAC Île-de-France e da Région Île-de-Franc, importante organismo cultural em França, com o apoio do Ministério da Cultura Francês. 

No contexto da Temporada Portugal-França 2022, Joël Pommerat apresenta “Ça ira (1) Fin de Louis”, entre os dias 28 e 30 de outubro, no Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa. Entre ficção e realidade, a peça inspira-se no processo revolucionário de 1789 para pensar a luta pela democracia e a motivação dos homens por novos sistemas, poderes e sociedades.

“Ça Ira (1) Fin de Louis” em apresentação no Theatre des Amandiers, 2015. © Elizabeth Carecchio