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Doclisboa’22 – Cinemateca Portuguesa e Culturgest
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Apresentação
Num tempo em que a memória do colonialismo, da escravatura e das guerras que motivaram ecoam nos movimentos e protestos anti-racistas com renovada actualidade, não é menos clamorosa a resistência atávica das sociedades pós-coloniais em confrontarem-se com a sua história. Perante a desigualdade sócio-económica estrutural do mundo, ainda dividido entre ex-colonizados e colonizadores, é penoso revisitar um passado que não consegue passar à história.
A sequência de Atualidades no final do Ato da Primavera, de Manoel de Oliveira, representa de algum modo tudo o que da guerra colonial transpirou para o cinema português até muito recentemente – está lá, e quase não está. A guerra a que não se chamava “guerra” fura a censura, e, nesse mesmo gesto, revela-a. No caso de França, onde a guerra de Argélia era apoucada no termo “évènements”, já para não falar dos anteriores conflitos na África subsaariana – esses totalmente ocultados -, a lei da censura fora reforçada em 1955 e o cinema era um dos seus alvos mais notórios, com autores como Pierre Clément, René Vautier ou Godard na mira.
Por isso um programa de cinema sobre o passado colonial de França e Portugal afigura-se-nos como um projeto desafiador, mas também entusiasmante pela gritante atualidade da questão.